domingo, 29 de março de 2020

Tempos de Corona

Hoje é dia 29 de março de 2020.

Já deve ser o décimo quinto domingo desse mês. Sim, todos os dias ultimamente tem sido como domingos. Estamos vivendo tempos de quarentena por conta da pandemia do COVID-19, o tal do coronavirus.

Algo que começou tão distante ainda em 2019, agora é uma angústia que está bem próxima e nos tem obrigado a ficar em casa. Bem, pelo menos é o que a OMS e cientistas recomendam (diferente do que diz o atual líder do executivo do Brasil).

Até semana passada, uns seis dias atrás, estava tudo "tranquilo" emocionalmente falando. Entretanto, após um pronunciamento oficial, o que estava no terreno da saúde se tornou uma discussão política, e foi aí que lascou tudo.

Eu sinto como se estivesse novamente nos tempos das eleições. Especialmente no que se refere a parentes e alguns conhecidos do facebook. A sensação que voltou forte é a de que estou sozinho, que estou exagerando, que "não é bem assim".

As discussões e comentários me fazem querer rasgar o diploma e a Bíblia. É como se tudo o que aprendi na faculdade e nas pesquisas acadêmicas e tudo que aprendi enquanto cristão assíduo da Igreja não valessem mais. Me sinto como um idiota por pensar que as pesquisas estão certas, por pensar que o ensinamento de que uma vida vale mais que o mundo inteiro (inclusive a economia do país) fossem histórias falsas porque na vida real de hoje elas não valem, não podem ser aplicadas. É como se todas aquelas informações só alcançassem pessoas e situações quando convém.

A palavra de uma pessoa, que em vários momentos e em várias falas é claramente egoísta, tem mais valor simplesmente porque tem. Por causas políticas essa palavra prevalece sobre todos os valores que fui ensinado.

Então mais uma vez olho para as pessoas ao meu redor e vejo o quanto estamos distantes nas causas que acreditamos e defendemos, e isso mexe muito comigo. É frustrante. É decepcionante.

Infelizmente, e eu espero mais uma vez estar totalmente errado e ficarei feliz por isso, muitas pessoas vão morrer. Inclusive pessoas próximas. E será por negligência, por subestimar argumentos embasados em pesquisas, argumentos embasados na mensagem da cruz. Estes, pelo menos, eu acho que eu possa ter entendido errado, afinal de contas, a vida real é diferente.

Não está sendo fácil, mas não tem pra onde correr. A alternativa é viver um dia de cada vez. Tendo abstrair aquilo que faz mal e tentando focar no que trás esperança.

2020 está sendo surpreendente. Os que por ele passarem, certamente sairão diferentes. Se de um jeito bom ou ruim, só o tempo dirá.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Quem eu quero ser/estar daqui a...

Outra coisa que preciso começar a projetar é o lugar em que estarei daqui a algum tempo.

Lembro que fazia muito esse exercício quando era mais novo e isso me ajudava a ter uma meta para correr atrás.

Então, começando este rascunho, a primeira pergunta é:

1) Como me vejo no final deste ano?

Bem, se me perguntassem isso até outubro do ano passado eu não teria uma resposta muito elaborada, ou seja, o término do namoro me fez olhar pra dentro de mim e buscar sentimentos, comportamentos, sonhos, motivação, que eu tinha deixado de lado ao longo dos últimos anos. Eu estava acomodado e hoje vejo bem isso justamente por causa de perguntas como essa. Me perdi de mim mesmo no meu relacionamento e isso trouxe efeitos não tão bons pra minha vida.

Agora que voltei a ser o foco da minha vida essa pergunta surge inevitavelmente porque já não tem outras vontades pra satisfazer além das minhas. Meu Eu volta a ser o protagonista da minha história, lugar que nunca deveria ter saído. Coadjuvantes são aceitos, mas não podemos deixá-los tomar de conta do palco que é meu. Sentado aqui escrevendo estou sentindo o impacto dessas verdades. Essa mistura que acontece nos relacionamentos é muito perigosa, concluo isso.

Voltando à pergunta, em dezembro de 2019 quero estar comemorando o fim do segundo semestre letivo do mestrado. Reclamando, ou melhor, falando aliviado que venci aquelas aulas chatas, aqueles professores exigentes. Estarei feliz por ter iniciado minha pesquisa, por estar fazendo valer o sacrifício dos dias que fui até Barreiras, das amizades que fiz, dos resultados que obtive.

Quero estar satisfeito com meu corpo. Quero estar feliz por ter me disciplinado na academia e na alimentação. Irei postar foto e agradecendo aos profissionais que me acompanharam durante o ano (nutri, personal, endocrino e tals) e me ajudaram a conquistar o shape que me fez ficar bem naquela roupa que escolhi pro reveillon.

Como o ano vai acabar numa quinta-feira, irei postar alguns TBT com amigos em momentos descontraídos, relembrando viagens e festas e lanches e conversas e danças. Irei postar fotos com minha família em momentos felizes babando o Daniel que já vai tá andando e falando alguma coisa fofa e curtindo nossa saúde (emocional e financeira).

Pode ser que esteja morando em outro lugar que não tenha que subir uma escada pra ir pro quarto rsrs.

É possível que esteja esperando sair a nomeação do concurso que terei passado dentro do número de vagas.

Estarei com o coração em paz. Solteiro ou namorando? Vai saber. kkkk Mas a saúde estará ótima!
Estarei sem nenhuma dívida com fé em Deus. Passa tudo no débito, por favor!

Estarei feliz por ter amadurecido, orgulhoso por ter enfrentado os dias difíceis, por ter mudado hábitos ruins, por não ter dado chance para a acomodação. Por ter lido pelo menos 12 livros. Por ter me aproximado de amigos queridos. Pela decoração linda da minha casa.

Por estar bem com a vida.

2) Como me vejo em dezembro de 2029?

Olha, no final desta década creio que o Leandro irá se surpreender ao olhar pra trás e fazer essa retrospectiva.

Casado e feliz, bem sucedido financeiramente e profissionalmente, passaporte carimbado. Carro legal, casa bacana. Um cachorro. Tio coruja (de quantos, será?). Pai babão, quem sabe. Cheio de saúde, tiozão gato kkkkk família reunida na praia ou pr'aquela carninha assada que meu pai sempre faz.

Entrego meus planos, metas, sonhos, tudo isso nas mãos de Deus.
Espero que ele me permita viver e usufruir de tudo isso.

Meu coração sorri ao pensar em tão longo prazo assim. Sorri como Sara, esposa de Abraão.
Não lembro a última vez que levantei os olhos e enxerguei um futuro assim, cheio de esperança.

Obrigado, Deus, porque sei que independente do que aconteça, não perderei a minha fé e sua misericórdia me alcançará sempre.

Sem dúvida, o Leandro quase quarentão  de 39 anos terá orgulho de si mesmo.

"Só o amor pode salvar o mundo"




O querer

Estou aqui pensando em algumas coisas.

Em minha primeira sessão da terapia, que nem foi uma sessão propriamente dita, após me ouvir ele me deixou o seguinte pensamento: parece que existe uma dívida com sua família. Precisamos entender o por que disso e como isso te afeta. Daí eu discordei num primeiro momento - ah, não é uma dívida, é outra coisa... tipo... tipo... nossa, será que estranho. Essa palavra parece fazer sentido e explicaria muita coisa.

Passei a semana com isso na cabeça. Teria eu um sentimento de dívida? A princípio achei que gratidão seria mais adequado, mas gratidão de deixa livre pra agir, já dívida te deixa refém.

Refleti muito sobre isso. Talvez ele tenha razão. E agora quero saber mais sobre isso.

E agora, pensando milhões de coisas e vagando pelo insta, vi um vídeo de um terapeuta falando o seguinte: "Nós conseguimos tudo aquilo que a gente quer. A questão é: você quer? Se você quer, se movimenta". Tive outro clique.

Por que ainda me deixo abater pela saudade ao ponto de ficar na bad. Talvez a resposta esteja justamente nas coisas que eu ainda quero. Olhando pra dentro de mim, o que eu quero?

Lá no fundo, sendo bem honesto, acho que eu queria sim voltar pro meu ex. Queria que ele me procurasse com um discurso de que a ficha dele caiu e que terminar não era a melhor opção, que haviam outras alternativas, que coisas poderiam ser feitas pra gente permanecer juntos. E isso é o que puxa pra baixo. Especialmente porque sei que minha razão seria resistente ao pedido, mas meu coração pediria pra aceitar. E aí entraria esse tal sentimento de dívida, de que eu deveria dar uma chance diante de toda nossa história. Eis que surge o meu conflito, porque sei que aquilo que existiu, se afundou em todas aquelas situações que passei.

Só que por estar desapegado, chegaria ao ponto de me submeter.
Gente, que doidera isso!

Terei muito assunto pra terapia de hoje.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Dia de bad

Prestes a completar 3 meses do dia que terminamos, hoje a sensação que sinto é de que fazem poucos dias. Hoje é um daqueles dias que a 'bad' veio.

Tenho tentado ficar bem. Tenho tentado ficar bem. Aliás, eu tenho estado bem. Tenho sorrido. Tenho encontrado motivos para não te procurar. Motivos para sentir raiva e nela encontrar forças para te resistir. Mas nas últimas horas, últimos dias, tenho fugido da dor. Procurado meios de evitar a dor, a saudade, a vontade de te procurar.

Sinto-me perdido.

Confuso, talvez.

O que me deixa angustiado é pensar que, se caso voltássemos hoje, seria estranho... como se eu não me sentisse em casa. É essa sensação de não ter pra onde voltar que me enfraquece. O lugar que por tantos anos foi meu porto seguro, meu lar, meu aconchego, esse lugar não existe mais.

Por isso digo a mim mesmo que a única opção é seguir em frente. Você insiste e pede pra não sair da minha vida. Mas que lugar há em mim para você? Não sou capaz de te ver e não desejar me perder no teu abraço, de te beijar, de te fazer um carinho, de te chamar de cabeção, de cuidar de você.

Amanhã será minha segunda ida a terapia. Sim, comecei a terapia. Será que conseguirei alguma resposta? Algum suspiro? Algum alívio pra essa minha tristeza? Nem digo tristeza, mas pra esse vazio, pra esse lugar que tanto foi luz, mas agora foi tomado por escuridão, por uma névoa que já não me permite mais enxergar algo que me faça sentir segurança.

Vejo mensagens que falam que daqui a seis meses eu estarei bem, que irei olhar pra trás com paz no coração. Quem me dera pudesse pular pra esse dia.

Até lá, sigo nesse caminho cheio de altos e baixos. Tentando não abrir mão da esperança e da fé de que isso vai passar.

domingo, 8 de dezembro de 2019

Saudade é sentir afeto no silêncio.

Até que ponto vale a pena tentar de novo?

É tão estranho estar perto de alguém e ter a sensação de ser ele a pessoa certa da sua vida.

Eu ouvi esses dias alguém falando que um casal precisa ser apoio um do outro justamente quando o outro está perdido, com dúvidas ou confuso.

Mas como lidar com o medo de passar por certas situações novamente? Quando parece que elas irão se repetir sempre. Vale a pena dar chance de correr o risco de se machucar de novo?

Meus pais tem 30 anos de casados e já houveram tantas situações que para muitos seria motivo suficiente para desistir. Mas eles, especialmente minha mãe, nunca desistiu. Sempre perdoou. Sempre deu mais uma chance. Eu nunca entendi o porque ela se permitia passar por isso. Mas acho que se perguntar pra ela hoje, ela responderia que sempre valeu a pena lutar pela família, pelo amor, pelo casamento.

Qual amor vale a pena ser colocado em uma estante apenas como uma lembrança?
Quando é realmente correto abrir mão de um amor?

Será que essa sensação de "merecer outra chance" com todos os riscos é apenas uma cultura, um padrão que aprendemos como a coisa certa?
Será que realmente é a coisa certa e não apenas um comportamento repetido?

Até que ponto devemos usar o argumento do amor próprio pra anular o amor pelo "próximo"?

Quanto a autossatisfação mascara o sentimento de realização mútua? Até onde ela vai? A partir de que ponto ela deixa de ser saudável?

São tantos questionamentos e quase nenhuma resposta.

Queria não chegar na velhice e pensar que deveria ter insistido.
Queria poder saber que isso realmente vai passar.
Queria poder saber que virá alguém que, ao conhecê-lo, irei entender que tudo o que sinto hoje é pequeno pela grandeza que esse "novo" me trará.

É, meu querido, não é fácil. Mas que disse que seria?

domingo, 24 de novembro de 2019

Desabafo dos meus 28

24 de novembro de 2019.

Hoje parei pra pensar quem eu era no início dessa década.

Caralho, quanta coisa mudou! (desculpem o palavrão)

Eu era um garoto de 19 anos que estava no meio da graduação, cheio de sonhos, de projetos, me descobrindo, começando a ter as primeiras experiencias de vida, o primeiro coração partido e tudo mais.

E pensando em como e onde estou hoje, quem diria! Hoje sou um homem, graduado, com duas pos graduações, várias viagens, um relacionamento de 07 anos que me transformou. Saí do armário em tantos sentidos que as vezes é difícil assimilar o que me tornei.

Mas refletindo hoje, percebi que deixei de lado aquela vontade de vida que tinha aos 20 anos. Talvez por ter me dedicado tanto nesse relacionamento. Talvez por mera acomodação.
Lembro que meu lema era algo como "eu ando a 200 km/h, se quiser vir comigo, tem que me acompanhar". Hoje to saindo do devagar quase parando rs

Preciso resgatar esse tesão na vida. Já iniciei esse processo. São 5 semanas desde o término definitivo e, olha, não foi fácil. Algumas surtadas nesses dias? Talvez. Mas o mais louco é parar, respirar e olhar pra dentro de mim mesmo. Reconhecer minha responsabilidade (e culpa também). Reconhecer as falhas, os erros, a evolução, as intenções (boas e ruins). Tem sido um processo diário. Uma verdadeira montanha russa emocional.

Já superei aquela dor emocional do término. Estou no processo de entender minha "solidão". É a primeira vez na vida que estou de fato nesse contexto de viver sozinho. Estou no meu apartamento. Não devo satisfação a ninguém. E desapegar é complicado, porque percebo o quanto o meu 'Eu' se perdeu no 'Nós'. E desmembrar isso mexe com muita coisa dentro de mim. Tanto no coração, quanto na cabeça. É como um vício sendo deixado de lado com direito a crises de abstinência. Mas cada dia que passa, as crises são menos intensas e menos nebulosas. Sim, menos nebulosas porque me torno capaz de enxergar e reconhecer coisas sobre mim que não tinha me atentado.

Estou num novo ponto de partida na minha vida. Totalmente meu. E, como me disseram, preciso lembrar que não estou começando do zero. É um ponto de partida diferente porque sou/estou diferente, "maduro", em outro contexto de vida.

Lendo alguns textos, vi algumas frases que diziam que precisamos entender que algumas pessoas realmente entram na nossa vida: ou para "uma passagem" ou para "uma estação" ou para "uma vida inteira" e precisamos respeitar o fluxo da vida. Tudo tem um propósito, não dá pra gastar energia segurando algo que deve ir (embora).

Isso não mata. Isso, na verdade, fortalece. Assumir a "merda" em que estamos nos permite iniciar o processo de mudança e de adaptação. Situações assim são oportunidade para nos preparar para coisas que ainda estão por vir.

Se dói? Dói demais. Seja por ver sonhos evaporando. Seja por ser forçado a me afastar do convívio de pessoas queridas. Seja por me ver obrigado a sair da zona de conforto. Mas crescimento sem dor é inchaço!

É preciso estar aberto e respeitar os ciclos da vida. Quando eles acabam, eles acabam. É ver no caos oportunidade de amadurecimento.

Resgatar lá no fundo a fé de que tudo vai ficar bem. Já aprendi que situações assim só fazem sentido lá na frente, quando o novo surge e você entende que precisava de uma base, precisava ter passado por tais situações para recebê-lo.

Lá nos meus 20 e poucos, lendo textos que publiquei no outro blog, vejo um cara que tinha uma abertura pra vida (pras situações boas e ruins). Hoje, quero resgatar esse valor. Ter o passado apenas como aprendizado e o futuro como possibilidades. Quero, e preciso, focar no presente. Focar no cara que está aqui hoje, escrevendo esse textão, que sobreviveu a todos os momentos mais difíceis nesses 28 anos.

Vou aprender a conviver comigo mesmo nesse próximo ano. Correr atrás de sonhos adormecidos. Fazer minhas vontades. Viver meus sonhos. Arrumar a casa/coração/mente.

Sou um vencedor, cheguei até aqui pelo esforço que dediquei desde sempre. Foram tantas conquistas. Não dá pra me subvalorizar, me subestimar.

Um novo ciclo se inicia. Uma nova década. Onde estarei em 24 de novembro de 2029? Não sei ao certo, mas (por ser quem eu sou) estarei voando alto.

Obrigado, vida, por tudo que vivenciei até hoje. Levarei o que foi bom, como sempre fiz. E estarei/estou aberto para receber o melhor que Deus preparou pra mim.

No chance for bad feelings! 😉

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Dia 16 de outubro de 2019 - quarta feira

Passei a noite em claro, longe de você e refletindo sobre os últimos dias. Senti aquele estalo de que as coisas não estavam certas, que sabia onde isso poderia dar e não queria definitivamente chegar neste destino. Então, "empodeirei-me" de uma certeza que há tempos não sentia de cuidar de nós, de deixar de sentir-me deprimido e acertar nossos ponteiros. Fui pra casa decidido. Aquela alegria me consumia. Estava certo de que iríamos ficar bem novamente. Cheguei em casa e mal te deixei falar. Encostei você na parede e disse que era hora de "cortar nossas asas", pois estávamos voando longe demais um do outro. Olhei no fundo dos seus olhos para que sentisse o que eu estava sentindo.

Era tarde demais.

Pela primeira vez em 7 anos, nunca te vi tão sereno e certo que do que acabara de falar: não quero mais ficar com você.

Uma onda de desespero percorreu todo meu corpo. Percebi que aquilo tinha todas as chances de ser absolutamente real. Não houve briga. Não houve traição. Não houve nada clichê que justificasse uma decisão para o término. Antes houvesse.

Você bem que me avisou que quando cansasse de tentar isso aconteceria. E quantas vezes você tentou. Quantas vezes nós tentamos. Mas reconheço que nos últimos tempos me acomodei em uma segurança de uma relação inquebrável porque o amor ainda estava lá. Mesmo com as discussões, mesmo com a falta de desejo, mesmo com a abertura que demos um ao outro. E me rendi a essa acomodação. E com isso veio o desgaste.

Tornamo-nos incompatíveis como casal. Foi o que você disse. Palavras essa que já usei para justificar o fim de uma tentativa com outra pessoa. Por isso aquilo me deixou apavorado, porque eu sei o peso e a verdade dessa palavra.

Chorei. Chorei porque dói. A verdade dói. E nada do que eu argumentasse conseguia encontrar uma brecha em sua decisão. Nada.

Tantos por quês na cabeça... tantos "e se"...

Como duas pessoas que se amam tornam-se incompatíveis?

Enfim... com um mínimo de razão em meio ao desespero e sofrimento, te deixei ir. Você pegou suas roupas e foi pra casa da sua mãe. Aquela foi uma das noites mais difíceis da minha vida. Senti sobriamente cada lágrima que escorreu em meu rosto até que conseguisse pegar no sono, pois já não tinha forças para ficar acordado.

Dia 17 de outubro de 2019 - quinta feira

Acordei poucas horas depois. Antes das 8h da manhã te mandei uma mensagem pra saber que horas chegaria com o carro. Era apenas um pretexto, pois desejava que aquilo tudo não tivesse passado de um pesadelo. Você acordou e respondeu duas horas depois, mas só chegou perto das 13h. Aquilo foi uma tortura.
Enfim você chegou. Com o mesmo sentimento de certeza de sua decisão. Não tive como não pedir pra não ir embora, não podia carregar essa "culpa". Abri mão do meu orgulho como se aquelas palavras fossem mágicas e fariam você mudar de ideia: amor, por favor, não me deixa! Mas foram em vão. Você foi. Não quero dizer que deixou a mim, não foi um abandono. Você deixou aquilo que já não estava mais te fazendo feliz e eu precisava entender isso.

Fui à casa dos meus pais. Recebi colo e muito amor. Voltei para casa.
Você estava lá, pois iria me acompanhar em um exame no dia seguinte.
Dormimos em quartos separados. Ainda havia em mim aquele sentimento de saudade. Eu pensava: não acredito que aquele foi nosso último beijo. Não acredito que aquela foi nossa última transa. Restava em o desejo da despedida. E já um certo controle e, aparentemente, mostrava que estava bem.

Dia 18 de outubro de 2019 - sexta feira

Acordei e você ainda dormia. Descobri que o exame tinha sido cancelado.
Te observei novamente e senti uma imensa vontade de deitar ao seu lado de conchinha. Pensei: quer saber, vou fazer. Deitei e você me abraçou. Como foi bom. Pouco depois me veio um sentimento de raiva, misturado com vingança ou algo assim. Decidi de seduzir e tive o que queria. O ultimo beijo. A ultima transa. Totalmente focado em mim, em meu desejo. Me permiti viver aquela despedida.

Foi embora sem olhar para trás. Eram 17 horas e 18 minutos.

Tempos de Corona

Hoje é dia 29 de março de 2020. Já deve ser o décimo quinto domingo desse mês. Sim, todos os dias ultimamente tem sido como domingos. Esta...